domingo, 22 de abril de 2012

Agricultura de Exploração X Agricultura de Imploração

            Sempre penso como mudar o panorama geral da nossa relação, da nossa economia através da mudança do trabalho com a terra. O panorama geral defino como um monte de gente enfrentando a pergunta "como produzir conforto e felicidade a partir da propriedade de terra, do domínio, da capacidade concedida de mandar e construir um lugar pela posse dada pelo destino?"
            A resposta que encontro numa ponta é jogando conforme o mercado. Claro. Mas... Mercado é aquela bagunça. Um monte de gente, um monte de produtos, gostos variados e opiniões diferentes. A moda prevalece. Mercado lembra Carmem Miranda com banana e abacaxi na cabeça. O mercado não é uma pessoa. É uma loucura coletiva. Pessoas, abacaxis, bananas, carros, vestidos, cachorros, poodles coloridos com gravatinha borboleta. Nossa resposta que faz mais sucesso é essa. Usando a terra do jeito que essa loucura coletiva sugere. Pepino tá valendo ouro. Produzimos pepino. Ouro tá valendo pepino. Produzimos ouro e trocamos por pepino.  E de tanto dançar nesse jogo viciante, nossa cabeça fica cheia constantemente e nossa barriga cresce. A vida passa. A moda vai mudando. Quem joga bem prospera e viaja para o Canadá, Europa, Nova Zelândia e quem joga mal vai ao psicólogo ou psicanalista, dependendo da gravidade da situação.
             A resposta da outra ponta é usar a terra para fazer terapia e economizar a derrota no jogo do mercado. Agricultura natural, olhar os passarinhos cantando e ouvir os sapos coachando. "Já que não entrei no jogo e vou perder mesmo, pelo menos economizo as sessões psico consertantes da minha cabeça". No trabalho com a terra cria-se um ambiente rico, diverso, agradável, com templos de buda e chafarizes reconfortantes. Bananeiras com frutos doces naturais. 100% naturais. Banhos gelados de cachoeira e hortas maravilhosas. Brócolis todos os dias. Ermitão isolado do mercado das bananas e abacaxis cancerígenas...
            De um lado tenho uma realidade do bolo de chocolate. Se o mercado é um conjunto de crianças mimadas individualistas, impulsivas e imediatistas, oferecemos a receita milagrosa. Bolo de chocolate e brigadeiro para acalmá-las. Enquanto tiver bolo elas estarão felizes. O lado oposto é a trouxinha de vagem. Implorar para as crianças começarem a se alimentar de coisas saudáveis, que sustentam um pouco mais e deixam uma sensação leve. Infelizmente essas trouxinhas são inicialmente indigestas a quem não está acostumado e para que elas engulam isso só com muita imploração...

domingo, 1 de abril de 2012

Hora de baixar o mato.

Uma coisa é sempre uma grande dificuldade para as pessoas que gostam da agricultura orgânica, natural, ecológica, agroflorestal, etc.. Essa coisa é a hora certa de baixar o mato no quintal. O culto à natureza, gloriosa mãe, divina provedora de benditos frutos, mãe dos passarinhos, grilos, borboletas, esquilos, macaquinhos e porcos espinhos, enfim, essa supervalorização verde dificulta o homem e a mulher a vencerem a inércia e mudar tudo com suas mãos. Pegar na enxada, foice, facão, moto serra, roçadeira, trator, correntão, pulverizador e "pimba na chulipa". Como dizia o pensador Gabriel "Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura. Na mudança do presente a gente molda o futuro." Sim. O ser humano é capaz de mudar tudo. E com pequenas ferramentas ou grandes, podemos fazer grandes artes ou grandes estragos. Nenhum permanente. Nem a morte é eterna. Todos os estragos e ganhos são facilmente calculáveis. A capacidade de regeneração, a força do mato, a necessidade dos nossos filhos, a gente calcula com a cabeça no coração. Ou coração na cabeça. Certo é que a gente é capaz de calcular. Os 20, 30, 80 por cento. 10, 15 ou 30 metros, são apenas indicadores da força de tração. Da mão, do motor, do reagente. Da capacidade de eliminação ou introdução. A hora e a altura do mato no quintal dependem do cheiro, do som, da insolação, da lua, do tempo e da disposição. Dependem dos insumos, do canto do sabiá. No quintal, eu vejo essa hora se aproximar quando tudo parece parado. O movimento é claro e bem vindo. Certeza de nenhum espinho no meu caminho. Nenhum porco, espinho. E logo a terra está lá, no cio. Cheirosa. Perfumada. Nenhum arranhão importante. Todos salvos. Viva. Plantio.