Há 9 anos atrás, empolgado, eu começava uma empreitada no
“lote agroflorestal”. Primeira postagem desse blog. Peguei emprestado um lote
sujo e abandonado e comecei a plantar e conviver com esse agroecosistema.
Esperava que algum dia essa seria minha sala de aula. Foi. Aula mais particular
para mim do que imaginava. Juntei
sementes, carinho, motivação e conhecimento e decidi empreender na prática as
ideias que tinha, que tenho, no espaço que o mundo me cedeu.
Grandes ensinamentos. Trabalhei a limpeza do lote, briguei
com alguns vizinhos. Um dia joguei no ato uma fralda suja que a vizinha acabava
de jogar lá para dentro. Deu uma confusão. Despertei admiração em outros
vizinhos. Em outras pessoas, de outros lugares, que já me conheciam também. O
margaridão virou discussão no Codema (conselho municipal de meio ambiente). Se
era mato ou era flor, sujeira ou jardinagem. Levei alguns seres humanos para
conhecer essa experiência. A goiabeira que vivia no lixo. Foi junto comigo uma
das que mais se beneficiou. Roubaram, levaram um cacho de bananas que tava bonito. Ficou na minha
memória. Rancor. Pilantragem. Não aceitei isso bem. Aconteceram coisas boas e ruins na minha
vida também. Nesses 9 anos. Foi tudo entrando numa nova sintonia e meu lugar
foi para perto dali, para outro lote. Mas aquele inicial que era emprestado não saiu do
lugar. E hoje voltou a ser um local pobre. Mais inerte. Bom, fiz o que eu podia e o que sinto em relação a esse local, esse pedaço da pele do planeta. Parece que está com micose. Uma purulência cíclica. Ainda
não encontrou a hora. Os seres humanos que estão cuidando dele agora gostam
apenas de espaço inerte. A braquiária sobrevive ao fogo.
Há 5 anos atrás comecei então a cuidar do meu quintal
literalmente. Foi um espaço terapêutico e de diversão e alegria.
LOTE DO FELIPE EM 2015
Cada espaço e cada planta teve um significado. Não descansei
até preencher cada centímetro com as plantas e invenções que achava que seriam
emocionantes e trariam vida e evolução a esse pedaço. Ele era um pasto. Muitas
formigas cortadeiras. Hoje tem goiaba, pitanga, amora, alface, couve, alho
poró, lichia, abacate, banana, mamão, jaboticaba, bambu, taioba, araruta,
limão, laranja, tulasi, manjericão, tomate,
erva cidreira, alfavaca, babosa, ipê roxo, ipê amarelo, embaúba, abacaxi, ora
pro nobis, carqueja, murta, manacá, rosa, parreira, macadâmia, hibisco, juçara,
pupunha, coquinho babão, araçá, morango, açafrão, gengibre, guaçatonga, canela,
bardana, acerola, bertalha, malva, cana caiana, coco, hortelã, jasmim manga,
bálsamo, café, lírio, cebolinha, galinha, peixe, sapo, perereca, coelho, gato, saracura, teiú,
gambá, coruja, pardal, sabiá, bem te vi, maritaca, anur, alma de gato, tucano,
soldadinho, joão de barro, guaxo, corrupião, beija flor, curicaca, sagui,
trocau, crianças, formiga preta e parece que as cortadeiras sumiram, mas ainda tem capim
braquiária e margaridão.
LOTE DO FELIPE 2020
Em cinco anos consegui juntar essa turma aí e fazer muitas
festas nesse quintal. E ano que vem vou
expandir a dinâmica e energia para outro pedaço de pele do planeta. Uma que está numa fase boa também. O Montecristo
Agroflorestal no estado do Rio de Janeiro. Lá vou encontrar minha turma. Porém, se encontros de vida e alegria acontecem, outros de desertificação e ignorância também. O lote do vizinho
aqui ao lado, que um dia foi um pomar bonito, de uma velhinha que gostava das
plantas. Hoje caiu nas mãos do pessoal que resolveu não deixar mais nenhuma árvore para os pássaros e entrou na onda da limpeza inerte. Os pássaros voaram para o lado de cá.
Quintal da velhinha que gostava de plantas.
Quintal do lado de cá. 2020