sábado, 7 de maio de 2011

Trabalho não remunerado e bem gratificado.

A grande questão da agricultura é a desvalorização da atividade. Uma caneta vale mais que uma vassoura, que vale mais que uma enxada. Capinar ou “limpar” uma área para plantio é serviço para os bêbados mais perdidos no mundo. Para os cachaceiros do ponto de chapa, que aceitam qualquer trabalho pesado e que, quando se deparam com a atividade agrícola, ficam chateados, porque não pegaram um serviço mais leve de carregar geladeira, armário, piano e máquina de lavar numa mudança. Esse é o panorama da enxada. Digo isso, teclando teclas suaves do laptop. Posição invejável a minha. Assim, parece que estou no trabalho mais importante do mundo. Gerenciando uma rede de hospitais do câncer ou investindo na bolsa de valores, que representa estar praticamente ganhando na mega sena todos os dias através da minha concentração e elegância na frente do computador. Mas, na verdade, eu sou um agricultor de lote pé de chinelo! E estou teclando o laptop porque a conversa de queixo apoiado no cabo de enxada está em extinção. Agradeço que posso conversar comigo mesmo durante o trabalho no lote e viver momentos inesquecíveis nesse trabalho autônomo. Quero compartilhar um pouco da minha alegria divulgando essas experiências. Quem sabe, outros do mundo da caneta se empolguem e entrem nessa onda? Quem sabe os da vassoura se aventurem e se apaixonem pelo mundo da enxada, resultando num belo, produtivo e sustentável casamento? Quem sabe os do mundo da enxada comecem a se sentir melhor, mesmo com a jornada de trabalho intensa e com a péssima remuneração em dinheiro que recebem? Um dia vou ter mais companheiros para dividir minha alegria ao admirar as flores do margaridão, maritacas comendo o milho que dividi com elas e a colher as abóboras pelo caminho a cada dia revigorante de manejo no lote. Trabalho que faço nos horários livres e que só me traz gratificações.

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