Lote sendo preparado para plantio em setembro de 2010 |
A história do lote que motivou esse blog, com a exposição de pensamentos e reflexões sobre a agricultura de uma forma íntima e pessoal, faz parte da história de Ibiá, da história da agricultura e da minha história.
Calma! Não vou descrever um compêndio sobre essas histórias estilo Wikipédia, ressaltando a colonização do Brasil, como fato histórico primordial no entendimento da conjuntura sócio econômica atual e colocar a culpa nos portugueses por todas as desgraças do nosso país. Pode deixar que vai ser uma história tranqüila de ler.
Ibiá é uma cidade espaçosa. Grandes lotes na cidade e grandes terras no município, que foram passando de pais para filhos junto com o modo de tratar essas terras de modo extensivo. Queimadas e desmatamento, exploração e desbravamento, feito por poucos homens duros, fortes e valentes, mas que também tinham uma sensibilidade fraternal com a família. Sentimento que para mim vem do leite. A amamentação acalma o ser humano. Ibiá, terra do leite e queijo. A relação com os bovinos deixou as pessoas da região mais sábias e calmas. Aprenderam a serenidade dos grandes mamíferos das pastagens. Às vezes, tenho a impressão de ver pessoas ruminando numa sombra de árvore ao entardecer.
E a cidade, ao contrário das roças de Ibiá, é rica em árvores. A maior concentração de árvores é a floresta urbana de Ibiá. Os cidadãos urbanos valorizam e sentem falta das árvores que foram cortadas nas praças. A principal função do CODEMA (conselho de meio ambiente) é a responsabilidade de dar o veredicto quando alguém pede permissão para cortar mais uma delas. E quanto às árvores da cidade, todos tem apego como um membro da família. Já estou falando demais. O importante é que com esse manejo extensivo, aprendendo a formar pastagens para os bois, o Ibiaense, de modo geral, desenvolveu um olhar de rebanho sobre a natureza. Um olhar geral para o horizonte e uma mão pesada como um trator.
A história da agricultura, que encontrou essa história de Ibiá, foi a história da desvalorização da cultura local. Que cultura? Ainda não sei, porque mal conheci. A história da agricultura de exportação, das monoculturas e da balança comercial favorável atropelou tudo. A história do agronegócio. Desmatamento, uso intensivo do solo, impediu a terra de respirar sua última capacidade de regeneração. Fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e desertos verdes de eucalipto mascarando a degradação. Solidão nos campos e cidades marcadas pelas desigualdades sociais. Fazendeiros na parte antiga e trabalhadores braçais na periferia. Crack pegando.
Onde eu entrei nisso? No lote. Espaço que sobrou para mim. Aparentemente, o bagaço da laranja. Um lote “sujo”. Cheio de entulho e lixo. Um lote mal tratado a herbicidas e queimadas. Só quem resistia bravamente, e foi meu maior ajudante até hoje, era um capim forte e resistente a seca. Ainda não identifiquei sua espécie, mas já peguei intimidade e o chamo de tifton bravo. Esse capim cobria a terra e mantinha a vida no lote e, por isso, era chamado de praga. Vê se pode! Goiabeiras castigadas, uma grande sibipiruna morrendo e duas mudas de mamona bem pequenas, afogadas no capim, como se escondidas para fugir do fogo e dos herbicidas.
Minha história, foi que fui criado em apartamento sem espaço. Desenvolvi, em consequência, uma visão de vaso de planta, aquário e hâmster, ao invés da visão de rebanho de bois. Criei um apego pessoal a cada plantinha e bichinho. Criei paciência para catar cada caco de vidro e cada latinha de cerveja jogada no lote. Especializei em remediar a sujeira da falta de cuidado, de quem tem muito espaço e, por isso, consegue fugir do monte de lixo que ele mesmo vai criando. Por isso me dei bem com o lote.
Cheguei de Viçosa, cheio de sementes e gás para difundir a agrofloresta e criar sistemas produtivos baseados no carinho e no cuidado e me deparei com a solidão nas roças, pulverizações aéreas, muito boi, café, milho, feijão, soja e eucalipto. Não encontrei a minha turma. Restou minha pequena família naturista espiritualista, que também vê coisas sagradas num rio, numa planta ou em uma formiga. Voltei a me sentir com pouco espaço, mas agora num lugar espaçoso. O lote foi minha terapia salvadora e meu maior feito até então. Recuperei uma área de terra na zona urbana com meus conhecimentos, sementes, enxada, enxadão, facão, alegria e boa disposição.Essa foi a empreitada.
Agradeço ao capim forte e a deus, que me disponibilizou tempo e disposição para ter esse grande aprendizado da regeneração natural. Deixei milho e goiaba para as maritacas, lagartas, percevejos e outras pragas sagradas da agricultura. Louvei o feijão de porco, as favas e feijões que foram cobrindo a terra. Fiquei mais forte com a musculação das capinas diárias no preparo para o plantio. Desenvolvi muitas teorias sobre os consórcios de quiabo, fava, feijões variados, milho, mandioca, cará do ar, margaridão, mamona, abóboras, bucha, crotalária, manjericão, lobrobró, capim cidreira e capim citronela. Colhi muita abóbora e agora estou caprichando nos caminhos para o lote ficar visitável ao chinelinho.
Estou gastando muita saliva com os vizinhos tentando explicar as funções de todo esse mato, margaridão, mamona, capim, feijões e favas. A paisagem que criei é maravilhosa. O foco e o jeito de olhar é que precisam ser mudados. É como aquele livro em 3D, que depois que se pega a manha de olhar profundamente, envesgando a vista, o livro passa da última prateleira para a mesinha de centro da sala de visitas.
Cheguei de Viçosa, cheio de sementes e gás para difundir a agrofloresta e criar sistemas produtivos baseados no carinho e no cuidado e me deparei com a solidão nas roças, pulverizações aéreas, muito boi, café, milho, feijão, soja e eucalipto. Não encontrei a minha turma. Restou minha pequena família naturista espiritualista, que também vê coisas sagradas num rio, numa planta ou em uma formiga. Voltei a me sentir com pouco espaço, mas agora num lugar espaçoso. O lote foi minha terapia salvadora e meu maior feito até então. Recuperei uma área de terra na zona urbana com meus conhecimentos, sementes, enxada, enxadão, facão, alegria e boa disposição.Essa foi a empreitada.
Agradeço ao capim forte e a deus, que me disponibilizou tempo e disposição para ter esse grande aprendizado da regeneração natural. Deixei milho e goiaba para as maritacas, lagartas, percevejos e outras pragas sagradas da agricultura. Louvei o feijão de porco, as favas e feijões que foram cobrindo a terra. Fiquei mais forte com a musculação das capinas diárias no preparo para o plantio. Desenvolvi muitas teorias sobre os consórcios de quiabo, fava, feijões variados, milho, mandioca, cará do ar, margaridão, mamona, abóboras, bucha, crotalária, manjericão, lobrobró, capim cidreira e capim citronela. Colhi muita abóbora e agora estou caprichando nos caminhos para o lote ficar visitável ao chinelinho.
Estou gastando muita saliva com os vizinhos tentando explicar as funções de todo esse mato, margaridão, mamona, capim, feijões e favas. A paisagem que criei é maravilhosa. O foco e o jeito de olhar é que precisam ser mudados. É como aquele livro em 3D, que depois que se pega a manha de olhar profundamente, envesgando a vista, o livro passa da última prateleira para a mesinha de centro da sala de visitas.
Nossa Felipe que ótima idéia este blog, vai bomba! Vamo divulgar ele em Viçosa! Quando posso postar meu quintal também?
ResponderExcluirTudo de bom pra vocês aí!! Lucas Apêti